Crónicas de um Aventureiro

Um Hipopótamo "morto"

Ao explorar o mato, existem algumas regras que devemos seguir se quisermos evitar problemas. Algumas são muito básicas e óbvias, outras são um pouco mais difíceis de entender. 

Esta história é sobre uma regra muito básica: “em dúvida, nunca sair do carro”. Na verdade, duas regras muito básicas: “em dúvida, nunca sair do carro” e “nunca aproximar de uma carcaça se não tiver a certeza de que está livre de predadores”.

O meu lindo lugar de rastreador!

Encontramo-nos de volta ao acampamento em Karongwe, 2012. Saímos de manhã em busca de qualquer animal. Os safaris matinais são sempre os meus favoritos. Os animais ainda estão a acordar, alguns predadores ainda a caçar, tudo pode acontecer! 

A minha alcunha era “rastreador” porque estava sempre no assento do rastreador. Assim, conseguia ler a estrada e todos os sinais dos animais. No banco do rastreador, sentia sempre que estava fora do carro, e estava, mas estava sozinho. Só eu e o meu mato.

Era inverno em África, mas ao contrário dos nossos invernos na Europa, o inverno em África é seco. Normalmente chove apenas no verão. Portanto, no inverno, todos os animais estão mais próximos da água, e é aí que os encontramos. Por isso, procuramos em rios, barragens, qualquer coisa que tenha água.

Guiámos cerca de uma hora, hora e meia, até que decidimos fazer uma pequena pausa numa barragem. O mais próximo era a “Croc Dam” (barragem do crocodilo). Como podem imaginar o nome já diz porque é que é chamado assim. Um crocodilo residente patrulhava estas águas, aguardando que alguma presa descuidada arrisque ficar ali a beber durante algum tempo.

Um lindo Crocodilo-nilo (Crocodyl;us niloticus). Foto tirada no Kruger. 

Ao chegarmos à barragem, reparámos num grande corpo próximo da água.

- Hipopótamo! - disse eu.

– A dead one – “John” corrected me.

We stopped the car close to the carcass, around 5 meters away. “John” looked over the door, the body was to the left of the car, to have a better look.

– Amazing! Not a single bite on the body! No predator has found it yet. Very cool! We are going to check it.- “John” said while starting to get out of the car.

O corpo do crocodilo.

Depois de parar por um segundo, continua a caminhar em direção ao corpo e diz-nos:

- Por favor, fiquem no carro até eu dizer que está tudo bem para saírem. E fiquem também de olho nos leões, hienas, leopardos, etc .

Enquanto anda à volta do corpo, como um detetive, para tentar descobrir como o hipopótamo morreu, começa a explicar-nos:

– This is a young male hippo. Very healthy and doesn’t look beaten up. Very strange how he died… – “John” ‘s face was of a confused person. This dead animal doesn’t show any signs of the cause of its death. 

Joahnn recua um pouco e agarra numa pedra. Não é uma pedra pequena, é um pedregulho que tem de agarrar com as duas mãos! Volta a caminhar na direção do hipopótamo e vai-nos dizendo:

- Regra para nos aproximarmos de uma carcaça: verificar sempre se há predadores por perto!

Atira a pedra que atinge o hipopótamo mesmo na barriga. Então a cabeça do hipopótamo levanta-se!

Hipopótamo fora de água

“John” jumped 2 meters high! He started to run to the car while the hippo raised from the dead! The hippo was very confused, giving time to “John” to jump to the driver’s seat! “John” put first gear and blasted the accelerator to escape the angry hippo!
– SH&T! – “John” screamed while driving away – He wasn’t dead!

O hipopótamo, furioso, perseguiu-nos durante 500 metros até desistir e voltar para a barragem. Depois de nos afastarmos da barragem, parámos outra vez, desta vez numa rocha alta ... só para prevenir.

“John” was pale, but pale. I turn to him and asked:

- Estás bem? 

-Nope… I just woke up a hippo! I even touched the hippo! – “John” said while releasing a very nervous giggle. 

- Acho que foi uma boa ideia teres atirado a pedra. Imagina o que teria acontecido se ele tivesse acordado rodeado de pessoas! - comentei.

E é por isto que nunca se deve aproximar de uma carcaça. Essa é a minha regra! Mesmo não vendo nenhum predador. A “carcaça” afinal pode estar viva, talvez haja um predador por perto que não consiga ver. Existem mais razões para não se aproximar do que para fazer o contrário. 

Na dúvida e na certeza, fique no carro!

O hipopótamo a olhar para nós com os olhos de poucos amigos.

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